Carreira
Como começou o interesse pelo cinema?
Sempre amei o cinema, desde o primeiro filme (um bang bang no interior do Paraná, onde nasci). E sempre gostei de escrever e contar histórias, então só mudei a mídia. Aos 20 anos escrevi meu primeiro roteiro e aos 23 anos mudei para São Paulo com a intenção de trabalhar
Quais as suas influências? – cinematográficas, literárias etc
Acho que poderia citar um grande número de filmes, mas vou começar pelas influências iniciais, que foram "Um Dia de Cão", que na época eu matava aula para assistir. Assisti todos os dias durante uma semana. Depois "Laranja Mecânica", "Lúcio Flávio", "All that Jazz", "Excalibur", "Blade Runner" e "Heavy Metal" - porque uma influência muito grande sempre foram os quadrinhos. Hoje meu autor preferido é Neil Gaiman, que escreveu a série Sandman. Leio tudo dele. Adoro filmes e livros de fantasia, de suspense, mas que tenham um conteúdo de crítica escatológica. Mas tem milhares de outros filmes e livros e é impossível citar todos. Gostava muito do Érico Veríssimo, li umas 3 vezes "O Senhor dos Anéis" e amei o filme. Pra mim, ler e ver filmes é puro prazer. Não tem aí nada muito intelectual. Adoro o Tarantino e o Almodóvar, justamente pela transgressão. O Robert Rodrigues e vejo todas as adaptações de quadrinhos, como o Sin City e 300.
A sua formação – instrução, família, amigos, coisas que gosta de fazer, inspiração...
Sou formada em cinema, pela FAAP de São Paulo. A família é extensa, tenho muitos irmão e amigos. Tenho um irmão poeta, que é o Ricardo Corona, com quem acabo tendo mais contato porque ele mora aqui. Tenho um filho de 10 anos, que é o Pedro e eu sou bem coruja. Vivo há 23 anos com a mesma pessoa, quer dizer, neste ponto acho que sou bastante estável. O que me permite elocubrar e "viajar" bastante quando se trata de contar histórias. Acho que tenho uma história de vida razoável que me serve de repertório. Adoro ir ao cinema e adoro ler. Viajar, coisas normais... sou meio natureba e acho que tenho um pezinho nos anos 70 ainda. Então, meus heróis são aqueles que morreram de overdose.
Quais os temas que mais trabalha, nos filmes?
Gosto de retratar as experiências de pessoas que fazem a diferença no mundo, quando se trata de documentário. Na ficção, gosto mais da fantasia, da alegoria, sempre me concentrando no personagem. Mas tudo isso é sempre meio que um pano de fundo. Não há um tema específico, recorrente, porque gosto de explorar coisas diferentes. Então cada filme ou video é uma coisa nova, de uma idéia que tive, ou de alguma sensação ou algo que tenha acontecido a alguém.
Filmografia (título, bitola, duração e ano de estréia de todos os filmes)
- "Nosferatu, A Verdade" - um trash movie, de 5 minutos em 16mm - 1987;
- "Olhos Sobre Tela" - 10 minutos em 35mm, 1991;
- "Instrumentos Musicais" - 15 minutos em SVHS, 1991;
- "Paranapiacaba" - 20 minutos em SVHS, 1991;
- "O Rio que Passa
- "Certa Manhã", 1 minuto em SVHS, 1992;
- "Curitiba Cine in Concert" - 3 horas em SVHS, 1994 - mostra;
- "Anel de Fogo" - 7 minutos em SVHS, 1995;
- "Uma Aventura no Reino do Xadrez" - 19 minutos em minidv, 1998;
- "O Lobo Solitário" - 14 minutos em minidv, 2001;
- "Contos da Terra Sagrada" - 55 minutos em minidv, 2004;
- "Caros Ouvintes! - Uma Pequena História do Rádio" - 30 minutos em minidv e ainda inédito. Foi realizado em 2005;
- "Abacate" - 5 minutos em HDTV, em finalização.
Nos intervalos, trabalho em campanhas eleitorais, em institucionais e edito inúmeros gêneros de vídeos e programas de tv.
Carreira dos filmes – prêmios, críticas
"Olhos Sobre Tela" foi selecionado na Mostra de Cinema de São Paulo, aquela organizada pelo Mis de lá, na estréia. Paranapiaca venceu o Festival de Vitória pelo Júri Popular, em 1991. O Rio que Passa
O que foi mais marcante em sua história profissional? (contar a história, se possivel)
Foi vencer o DOCTV, com o roteiro de "Contos da Terra Sagrada". É um documentário sobre as 3 etnias indígenas do Paraná. O documentário me possibilitou realizar algo que sempre quis fazer. Por 30 dias vivemos entre os índios, visitamos 9 aldeias e tivemos a oportunidade de conhecer pessoas incríveis. Difícil foi acostumar de novo com os "brancos". Fiz amizades que se mantem até hoje. A gente se visita e se telefona e até e-mails trocamos. Sempre digo que quando me aposentar, vou largar tudo e viver no meio de alguma aldeia, se eles me aceitarem lá.
Como definiria o seu estilo como diretor? Esteticamente etc
Quando faço documentários, gosto da produção um pouco mais solta e de explorar as possiblidades que surgem. Apesar de fazer um bom planejamento, na hora de realizar deixo as coisas acontecerem porque considero que assim vou obter mais expontaneidade e mais realismo. Nem sempre funciona. Na ficção, levo mais apertado. Mas não deixo pra tomar as decisões no set. Quando estou no set quero tudo pronto e sair rodando. Faço reuniões com a equipe e com o elenco, discuto muito o roteiro antes e aí sim, dou margem pra opiniões. Quando se vai para um set, tem-se que ter em conta que a hora do planejamento acabou. A improvisação também. O set é o local da ação em todos os sentidos. Isso nem sempre é respeitado.
Produção
Como tem sido o seu modo de realizar filmes - produção, verba, recursos humanos? (descrever como acontece o processo, desde a criação, se possível)
Acho que tem sido igual a todos os realizadores do Paraná, hoje em termos de verba. Estamos todos dependentes de leis de incentivo e de premios. O mercado não está muito bom nem para os "famosos", pois até eles tem recorrido a esses mecanismos. O único filme que conheço no Brasil que foi feito fora desse modelo foi "Olga". Particularmente, odeio ficar nessa dependência. Pois odeio a parte financeira e burocrática, que são aquelas intermináveis planilhas. A parte que gosto é de escrever o roteiro e "ir pra estrada" realizar o filme. A parte criativa é muito gratificante. Idéias sempre tenho aos borbotões e nem sempre dão um filme. Ás vezes ficam só nas idéias mesmo. Mas quando elas ganham força a ponto de eu me sentar para escrever, sai numa tacada só, começo, meio e fim. Aí, depois, vou lapidando, e então escrevo o roteiro. Muitas vezes escrevo
Como são divulgados os seus filmes?
Normalmente contrato uma assessoria de imprensa que é a forma possível e barata hoje de divulgar. As verbas das leis de incentivo para a divulgação são bastante limitadas. Uso bastante a internet também.
De que forma as leis de incentivo, as escolas, a TV Educativa e a RPC, entre outros, têm ajudado a sua carreira?
Já fiz coisas fora das leis de incentivo. Acho que são hoje a única maneira de fazer cinema, porém as leis estão ficando cada vez mais burocráticas e isto está até interferindo na criação. A Fundação Cultural tem adotado uma postura financeira moralista, que a meu ver está fazendo o tiro sair pela culatra. Se o cara for honesto, pode ser o pior artista do mundo, que vai ter incentivo. E se ele tiver bastante paciência pra driblar a lei, consegue ser o pior artista e desonesto ao mesmo tempo. Quanto às redes de tv, devagar e timidamente estão iniciando projetos indenpendentes. Acho que por um lado elas tem razão, pois tem de olhar para o mercado e ser auto-sustentáveis. Mas por outro lado, nunca arriscam. Ninguém arrisca e ficamos todos presos a esse círculo vicioso. Acredito piamente que se todo mundo se envolvesse para criar de fato uma indústria ela daria muito certo. É só ver o exemplo de filmes mais comerciais como os da Xuxa e os da Globo e a gente percebe que há um vácuo a ser preenchido e que nós ainda não encontramos o caminho para preenchê-lo. Acho que a culpa não é do público. Se fosse, porque responde tão bem aos filmes estrangeiros? Porque abarrota cinemas quando o filme tem uma boa divulgação como é o caso de Dois Filhos de Francisco e Cidade de Deus? A resposta está que invenstimos tudo na produção e não na divulgação. E há o famoso gargalo da exibição. A gente tem que forçar esse caminho com algumas alternativas até provar para os exibidores que filme brasileiro dá lucro.
Sobre a questão técnica - poucas pessoas conseguem sobreviver de cinema no Paraná, portanto toda a equipe técnica acaba "fugindo" para a publicidade para sobreviver da sua profissão. Como é lidar com isso? Com quais os técnicos tem trabalhado mais frequentemente e o que significa?
Não é um caso isolado do Paraná. Morei 10 anos em SP e lá, apesar de se fazer mais cinema, não dá pra viver só dele. Você vai trabalhar numa produtora e na produtora dá mais lucro fazer comercial. Um comercial de 30 segundos tem orçamento maior que muitos longas, então você não pode virar as costas pra esse mercado, que paga as tuas conta. E pra quem tem a cabeça no lugar, é uma escola. Você aprende a ser "profissional". Não cabe a mim julgar as escolhas de ninguém. Acho que a melhor forma de lidar com essa "fuga" é pagar a mesma coisa. Está na hora de o cinema deixar de se comportar como o primo pobre. É claro que pagar bem a equipe eleva o orçamento, mas o princípio tem que ser esse. A valorização do profissional. As pessoas acham os salários escandolosos, mas esquecem que o cara ganha aquilo umas 2 vezes por ano, no máximo. Então é esse moralismo a que me refiro no caso das leis de incentivo. O cara que julga é um funcionário público que ganha a metade do cachê do assistente por mÊS e quando bota o olho naquela grana toda acha um absurdo. Quem faz sabe que não é assim. Que ganhamos esse cachê muitas vezes uma vez por ano.
E a formação de mão de obra – tem opinião formada sobre os cursos de cinema locais?
Acho que ainda estão deixando muito a desejar. Vale como um início de carreira, pro cara achar a turma dele. Mas acho que o que vale mesmo é a experiência. Tive uma experiência bem desagrável com alunos da extinta (em Curitiba) Academia de Cinema. Acho que eles tem muito chão pela frente e tem que se mostrar um pouco mais dispostos.
É possível viver de cinema no Paraná? É só a questão financeira? Quais são as outras dificuldades? O que é necessário para que o profissional possa viver só de cinema?
Não é possível, na minha opinião. Então todos nos viramos com comerciais, institucionais e sei lá que mais. Falta mercado. Filme na gaveta todo mundo tem de monte. Aí até aprova na Lei Rouanet ou na Lei do Audiovisual, o problema é conseguir o dinheiro. E mesmo que consiga realizar falta distribuição. Quer dizer, não há uma indústria no Paraná que faça com que alguém consiga se dedicar com exclusividade. Acho que parcerias com as tvs, com os exibidores locais, abrir canal de distribuição. Ou fazer como o Guto Pasko, pegou o filme dele, colocou debaixo do braço e foi para cidadezinhas do interior exibir em auditórios.
Aponte o nome mais significativo para a história do cinema no Paraná (pessoa, instituição etc).
É difícil dizer, mas vou arriscar um pioneiro, que é o Groff. Na minha opinião, ele foi além daqueles filminhos mudos porque criou um roteiro e deu a ele uma linguagem, que é o filme Pátria Redimida, ou algo assim (sou meio ruim de memória), dá prá confirmar na cinemateca ou com a própria Celina. O filme é o primeiro filme digno deste nome no Paraná. Tem história, linguagem e tem montagem.
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